O pesadelo de ser magra
Sempre fui uma rapariga magra. Há quem entenda isso como uma
provocação e um sinónimo de vida facilitada. Afinal, num mundo onde existe cada
vez mais complexos com a obesidade, como poderia alguém com menos peso
queixar-se?
Desde criança ouço as pessoas dizerem “estás tão magra” ou “devias engordar mais um pouco”. Parece que havia sempre quem não estivesse satisfeito com o meu peso. E mesmo quando eu informava que não sofria de qualquer distúrbio alimentar e que se tratava apenas do meu metabolismo, a desconfiança e olhares de desaprovação seguiam-me.
Desde criança ouço as pessoas dizerem “estás tão magra” ou “devias engordar mais um pouco”. Parece que havia sempre quem não estivesse satisfeito com o meu peso. E mesmo quando eu informava que não sofria de qualquer distúrbio alimentar e que se tratava apenas do meu metabolismo, a desconfiança e olhares de desaprovação seguiam-me.
Infelizmente na nossa sociedade existe uma constante pressão para que se tenha o corpo ideal. Não interessa se somos naturalmente magros ou se temos tendência para engordar facilmente. Todas as pessoas têm sempre algo a dizer sobre o nosso corpo. Conseguem encontrar criticas mesmo quando não há nada para criticar.
Foi nesse sentido que desenvolvi um escudo relativamente a essa situação. Sempre que o assunto era o meu peso, eu desligava. Era como ter um botão de “On/Off”. Era uma pessoa saudável e estava dentro do limite do peso considerado normal, segundo os médicos e nutricionistas, por isso não percebia porque havia sempre alguém que reclamava por eu comer tão pouco. Talvez fosse por inveja, talvez fosse por preocupação, mas a verdade é que se tornava bastante irritante e frustrante estar sempre a ouvir a mesma lengalenga.
O problema de estar sempre a ser criticada é que quando algo se torna sério nós não acreditamos. Se durante toda a minha vida sempre tinha sido saudável porque haveria de começar agora a ouvir o que os outros diziam? Mesmo quando os indícios estavam lá e as pessoas mais próximas – e que nunca faziam esse tipo de observações – começaram a querer falar sobre o meu peso, eu continuava com o escudo ligado e fingia que não ouvia. Essa situação direcionou-me para o abismo.
No Verão de ’15, após diversos meses de stress extremo, o horror abateu-se sobre mim quando numa manhã olhei ao espelho e reparei nos ossos salientes do meu corpo. As minhas costelas eram visíveis e aquilo não era definitivamente normal. A balança só veio confirmar aquilo que eu já sabia, estava com menos 6Kg do que deveria, o que no meu corpo equivalia a estar pronta para ir parar ao hospital.
Obviamente um dos meus primeiros pensamentos foi “Porque ninguém me avisou?”. Como era possível que tivesse chegado àquele extremo e ninguém tivesse reparado? A verdade é que apesar das diversas tentativas que o meu namorado, pais e melhores amigos tinham feito para me avisar, eu continuava com o “escudo” ligado. O desgaste dos últimos 25 anos tinham-me levado a um estado em que não conseguia mais falar sobre o assunto “peso” e por isso algo que poderia ter sido facilmente evitado tornou-se num problema sério.
Tomar a decisão de engordar foi fácil. Dirigir-me ao médico e ter consultas de nutrição também. O problema foi o percurso que tive de percorrer para conseguir que o meu corpo, cuja tendência não era para engordar, recuperasse aqueles quilos preciosos. Mas essa é uma experiência que fica para partilhar no futuro.
Importa perceber que é necessário modificar alguns dos nossos comportamentos. Expressões que parecem inofensivas tornam-se um verdadeiro veneno para quem tem um corpo considerado diferente do normal – segundo os padrões da sociedade. Não há mal algum em ser-se magro, desde que sejamos saudáveis e por isso há que considerar opinar apenas e só quando existe mesmo essa necessidade real.
Obrigada por me acompanharem nesta jornada, e como sempre, sintam-se à vontade para compartilhar as vossas opiniões!
Foi nesse sentido que desenvolvi um escudo relativamente a essa situação. Sempre que o assunto era o meu peso, eu desligava. Era como ter um botão de “On/Off”. Era uma pessoa saudável e estava dentro do limite do peso considerado normal, segundo os médicos e nutricionistas, por isso não percebia porque havia sempre alguém que reclamava por eu comer tão pouco. Talvez fosse por inveja, talvez fosse por preocupação, mas a verdade é que se tornava bastante irritante e frustrante estar sempre a ouvir a mesma lengalenga.
O problema de estar sempre a ser criticada é que quando algo se torna sério nós não acreditamos. Se durante toda a minha vida sempre tinha sido saudável porque haveria de começar agora a ouvir o que os outros diziam? Mesmo quando os indícios estavam lá e as pessoas mais próximas – e que nunca faziam esse tipo de observações – começaram a querer falar sobre o meu peso, eu continuava com o escudo ligado e fingia que não ouvia. Essa situação direcionou-me para o abismo.
No Verão de ’15, após diversos meses de stress extremo, o horror abateu-se sobre mim quando numa manhã olhei ao espelho e reparei nos ossos salientes do meu corpo. As minhas costelas eram visíveis e aquilo não era definitivamente normal. A balança só veio confirmar aquilo que eu já sabia, estava com menos 6Kg do que deveria, o que no meu corpo equivalia a estar pronta para ir parar ao hospital.
Obviamente um dos meus primeiros pensamentos foi “Porque ninguém me avisou?”. Como era possível que tivesse chegado àquele extremo e ninguém tivesse reparado? A verdade é que apesar das diversas tentativas que o meu namorado, pais e melhores amigos tinham feito para me avisar, eu continuava com o “escudo” ligado. O desgaste dos últimos 25 anos tinham-me levado a um estado em que não conseguia mais falar sobre o assunto “peso” e por isso algo que poderia ter sido facilmente evitado tornou-se num problema sério.
Tomar a decisão de engordar foi fácil. Dirigir-me ao médico e ter consultas de nutrição também. O problema foi o percurso que tive de percorrer para conseguir que o meu corpo, cuja tendência não era para engordar, recuperasse aqueles quilos preciosos. Mas essa é uma experiência que fica para partilhar no futuro.
Importa perceber que é necessário modificar alguns dos nossos comportamentos. Expressões que parecem inofensivas tornam-se um verdadeiro veneno para quem tem um corpo considerado diferente do normal – segundo os padrões da sociedade. Não há mal algum em ser-se magro, desde que sejamos saudáveis e por isso há que considerar opinar apenas e só quando existe mesmo essa necessidade real.
Obrigada por me acompanharem nesta jornada, e como sempre, sintam-se à vontade para compartilhar as vossas opiniões!
2 comentários
Lá está, a sociedade às vezes é o maior inimigo em certos aspectos :/
ResponderEliminarAcredito que seja complicado ouvir e lidar com os comentários, especialmente quando estes te acompanharam desde sempre, e que a saída mais comum seja desenvolver mecanismos de escape. Mas realmente é mau que o efeito dos comentários menos bem intencionados ao longo dos anos seja que os bem intencionados não sejam ouvidos...
ResponderEliminarDe qualquer modo, não vale a pena estar a pensar no que poderia ter sido melhor, porque felizmente te apercebeste a tempo (e podia ter sido muito pior também). Ainda bem :)